Nova Safra, Novas Dúvidas

Publicado em: 30/05/2022

Por Ivan Ramos

O agricultor brasileiro efetivamente vive em suspense. A cada safra uma história diferente. Ultimamente com surpresas indesejáveis, embora não se possa afirmar, calamitosa, na sua média. Digamos: inesperada. Quem é cooperativado ou integrado em alguma agroindústria, com certeza menos vulnerável aos problemas de mercado, entretanto, como ele faz parte do contexto socioeconômico, não deixa de sofrer consequências e em qualquer anormalidade no setor agropecuário, também é atingido. Depois de atravessarmos dois anos de pandemia que assolou o mundo inteiro, que ceifou vidas, provocou estragos econômicos em muitos setores empresariais e consequentemente  aos trabalhadores, nas cidades e no campo, eis que surgem outros contratempos na vida do agricultor. É bem verdade que essa categoria profissional sofreu menos do que as outras, mas tem enfrentado imprevistos angustiantes. O agro não parou, mas está sofrendo consequências de outras áreas. No sul do Brasil, foi a estiagem que dizimou uma boa parte da safra de grãos, aliada ao recente ataque da cigarrinha nas lavouras de milho.  Depois veio geada extemporânea e outros eventos climáticos que atingiu aqui ou ali pontualmente. Mas o agricultor vem resistindo. Continua produzindo alimentos, convivendo com as dificuldades, que aliás, para eles não é novidade, nem foi a primeira vez e nem será a última. Para este ano,  expectativa era de tirar o burro do banhado, afinal quem colheu bem, vendeu bem. Os preços, principalmente dos grãos, ajudaram na última safra.

Entretanto, a vida continua, a fila anda e há necessidade de preparar o novo plantio. De inverno, e de verão. Aí surge a guerra no Leste Europeu. Os preços dos fertilizantes explodiram. Teve produto que triplicou de valor. A especulação no mercado se exacerbou. A elevação dos preços, na maioria das vezes, está sendo especulativa. Fornecedores de matéria-prima do exterior aproveitaram a guerra para majorar preços, até onde não precisava.

O petróleo subiu e toda uma cadeia produtiva está sendo atingida. Tudo é culpa da guerra de Rússia e Ucrânia. Efetivamente teve quem ficou sem matéria-prima. Por falta de produção na origem ou por problemas dos transportes marítimos. Mas teve também aqueles que sentaram em cima dos estoques, aguardando subida dos preços, que estava desenfreada. Como a Lei da oferta e da procura  é implacável, faltou produto no mercado, os preços explodem. E lá vai o agricultor pagar a conta novamente. Insumos agrícolas mais caros, custo de produção lá em cima. Pra variar, o Governo Federal com dificuldades de arrumar orçamento para financiar a nova safra. Custos mais elevados, maior necessidade de financiamentos. Com crise econômica geral, inflação e os juros sobem. O governo está se batendo para arrumar um jeito de equalizar as taxas de juros com as do credito rural. O Plano Safra sofre ameaça de ser pior do que os anteriores. Crise à vista! Os bons preços dos grãos podem ser anulados com os custos do próximo plantio de verão. Mas faça chuva ou faça sol, o agricultor não desiste. Insumos estão caros, mas são indispensáveis para produzir. Pode acontecer redução do uso de tecnologia e consequentemente menor produtividade e menos renda final. A torcida agora é não deixar o agricultor desanimar. As cooperativas, como sempre, estão aí para apoiar. As de credito, com financiamentos mais baratos; e as agropecuárias oferecendo os insumos e garantindo assistência técnica  e comercialização. E a roda continua girando, e juntos seremos mais fortes. Pense nisso!