Voltar atrás pode ser uma virtude, não um defeito

Publicado em: 03/08/2020

Por Ivan Ramos diretor executivo da Fecoagro

Existem muitos ditados populares que refletem a realidade na nossa vida. Com certeza o significado sempre cabe em alguém, quer queira reconhecer quer não. Mesmo que não reconheça, alguém que o conhece vai dizer: “é a cara de fulano”. Se servir para uma correção de rumo, já é válido difundir. “Por exemplo,” nada como um dia atrás do outro”. Ou, “quando a água bater no pescoço, a pessoa apreende a nadar”. O enfoque que fazemos para tratar desse assunto não tem o cunho de crítica, ao contrario, de reconhecimento de virtudes. Quase a totalidade dos catarinenses foi surpreendida, com o resultado das últimas eleições para o governo do Estado. Há quem diga que nem os vencedores acreditavam que conseguiriam a vitória. A surpresa da vitória foi sucedida com a esperança de que surgia algo de novo; novos métodos, mudanças de estilo. Após a eleição, antes mesmo da posse a apreensão era grande, pois não se conhecia qual seria o sistema que se adotaria na administração pública estadual. À medida que foram sendo conhecidos os nomes da equipe do governo, ampliou-se a esperanças que efetivamente seria um governo de mudanças. Elas eram necessárias, porém dentro de uma realidade factível. Alguns percalços nas atitudes foram identificados, como por exemplo, ignorar a força, a influência e o Poder Legislativo; a importância das entidades de classe e a expressão do agronegócio em SC. Talvez a inexperiência na função e algumas infelicidades na escolha de assessores próximos, que também ao chegarem ao Poder, que achavam que podiam tudo, contribuiu para alguns contratempos, prejudicando as boas intenções do governador. No caso do setor agropecuário o novo governo começou mal.

Além da falta de atenção às entidades representativas, e ignorar os grandes eventos tradicionais do setor, tiveram o episódio dos agrotóxicos que polemizou e acabou criando aversão ao governo mesmo sabendo que muitos dos seus integrantes técnicos foram vencidos pelo Poder maior. Felizmente isso foi superado, e foi o primeiro sinal de negociação e bom senso, sem que significasse derrota. Forças políticas conservadoras continuam procurando defeitos para poder justificar a perda de Poder. Isso é natural na democracia. No caso do setor agropecuário parece que Governo do Estado já tem outra visão. Conseguiu entender a importância do agro não apenas para o setor, mas para a economia como um todo. A prova disso foi que na semana que passou o governador deu mais uma demonstração de que voltar atrás não é ser derrotado, e sim reconhecer uma realidade com o bom senso. Por iniciativa do próprio governador foi realizada uma reunião com as principais lideranças do setor agrícola de SC para um bate papo quase que informal. Conheceu os números da nossa agricultura, do cooperativismo e o trabalho social que as cooperativas desenvolvem, como instrumento de apoio às ações de governo. Conseguiu mudar a visão, pelo menos daqueles que estavam na reunião, sobre as intenções do governador. Comprometeu-se de valorizar o setor, participar em eventos do agro, fato que ainda não aconteceu nesse governo. Verdade precisa ser dita. O Secretário Ricardo de Gouvêa e sua equipe continuaram firmes, trabalhando tecnicamente. Os programas que já existiam não tiveram paralização, ao contrário, foram ampliados; novos programas foram implantados, e o setor está contente com a área técnica e operacional da Secretaria. Mudança de rumo? Não, mudanças de postura e reconhecendo a realidade. Espera-se que de agora em diante o barco não pare nem sofra interrupção na viagem. Estarão ganhando todos os catarinenses com essa mudança de postura. Nada como um dia atrás do outro para cairmos na real. Pense nisso.

Fonte: Fecoagro