Um Plano Safra aceitável

Publicado em: 24/06/2019

Por Ivan Ramos diretor executivo da Fecoagro

Em todos os anos no mês de junho o setor agropecuário fica apreensivo quando chega a época de ser anunciado o Plano Safra para o plantio da safra de verão. Há sempre uma preocupação sobre o que vem por ai, especialmente porque o Brasil é tomado por instabilidades econômicas, e conforme a situação do momento, os governantes tomam decisões com cortes ou redução de incentivos para o setor rural. Mesmo sabendo que em todas as ocasiões de crise foi o agronegócio que salvou a lavoura brasileira, os financistas governamentais não hesitavam na redução oferta de crédito, aumento das taxas de juros e redução dos apoios para o setor rural.

Na economia, o setor agropecuário é o mais fácil de cortar, pois os outros setores são mais organizados, mantém maior lobby político e o funcionalismo público, com estabilidade de emprego e direitos adquiridos, não permite mexer em nada para cortar gastos governamentais.

Nesse ano, com a mudança de governo, e com foco de gestão bem diferente do que vinha sendo praticado pelos governos dos últimos 20 anos, a expectativa era ainda maior. Embora todos os pronunciamentos do Presidente da República tenham sido favoráveis a agropecuária, sempre havia a preocupação devido à necessidade de mudanças que poderia atingir também esse setor.

Felizmente não o foi. Ao contrário, não apenas nos índices e valores disponíveis para financiamento, como também a manutenção das taxas de juros compatíveis com a atividade e ampliação em determinados setores, importantes para o estímulo e segurança da atividade agropecuária. A ampliação dos recursos para os prêmios de seguro agrícola subsidiado, praticamente dobrando de valor, e a abertura de linha de crédito para as reformas das moradias no interior, por exemplo, foram atitudes importantes incluídas no novo Plano Agrícola para 2019/2020.

Por outro lado, também precisa ser reconhecida e valorizada a decisão de unir todos os agricultores, independentemente do seu porte, em um único ministério e, consequentemente, num único Plano de Safra. A decisão tende a aproximar pequenos dos médios e grandes produtores, ao contrário de como era até agora, que apenas aumentava a divisão dentro de uma mesma categoria profissional. Se quisermos ajudar os pequenos temos que tratá-los de acordo com suas possibilidades, mas sem estimularmos uma divisão ideológica e às vezes manipuladora. Ao invés de dar as mãos a quem precisava, se agia para tê-los na mãos, deixando-os dependentes das tetas governamentais.

Eu gosto muito da frase que o ex-secretário da Agricultura Airton Spies sempre usava em suas palestras para falar da agricultura catarinense. “Em SC, pequeno agricultor não é sinônimo de pobreza ou miséria. Pequena propriedade deve ser sinônimo de competência e tecnologia bem aplicada”. Acho que isso deveria ser considerado em todo o país. Pequenos agricultores devem ter oportunidade, tratamento proporcionalmente igualitário aos grandes. Podem ter visão diferente por cultura e extensão de área utilizada, mas com os mesmos diretos do demais. Deixar todos dentro de um Plano único é valorizar os pequenos e oportunizar que cresçam e se tornem grandes. Poucos são os grandes e médio produtores rurais que já começaram grandes. Avançaram aos poucos e os resultados das atividades são que possibilitam melhorar.

Portanto, além da decisão positiva do Plano Agrícola anunciado na última semana, há que se considerar também as decisões estratégicas que tende a possibilitar melhorias na atividade agropecuária. As lideranças ouvidas em SC ligadas ao setor todas fizeram referências positivas. Dessa forma, está acertando a ministra Tereza Cristina em conseguir sensibilizar a área econômica e o presidente Jair Bolsonaro, de que o setor precisa ser prestigiado por ser o maior multiplicador de benefícios na economia e em curto prazo.

Agora precisamos torcer que o que foi anunciado se concretize na prática, e ainda assim ficar torcendo que o clima ajude e o mercado não distorça a rentabilidade necessária e anule todos os eventuais ganhos que se pretende para continuar na atividade. Pense nisso.

Fonte: Fecoagro