Um encontro para celebrar a liberdade e a comunicação

Publicado em: 25/07/2018

Marcos A. Bedin – jornalista, diretor da MB Comunicação e diretor regional da Associação Catarinense de Imprensa (ACI)

Ninguém pensa no Brasil. Essa é a sensação que o cidadão tem quando assiste aos frequentes ataques contra o erário público, contra o Estado de Direito e contra os princípios e postulados de uma sociedade na qual sua Carta Magna afirma ser fundada na justiça, na liberdade, na igualdade de oportunidades, nos valores do trabalho e no respeito à dignidade da pessoa humana.

Agentes políticos se associaram a empresários para roubar bilhões dos cofres públicos, das empresas estatais e dos fundos de previdência em licitações fraudulentas e em outras ações ilícitas que causaram prejuízos irrecuperáveis ao Estado brasileiro. Parlamentares irresponsáveis aumentam o nível de gastos para atingir objetivos eleitorais, sangrando ainda mais as já combalidas receitas públicas e deixando o País em uma fragilidade fiscal nunca antes vistas. Exageros, ações, omissões e abuso de autoridade ocorrem em todos os Poderes da República. Qualquer análise minimamente séria concluirá que a sociedade brasileira está caminhando para o abismo.

A sensação de que ninguém pensa no Brasil se esmaece um pouco quando a imprensa tenta descobrir, interpretar e denunciar os abundantes e chocantes fatos que merecem investigação, processamento e julgamento. O maior desafio da atualidade é exatamente este: exercer um jornalismo crítico, independente, ético e imparcial. Garantido na Constituição e louvado no proselitismo dos homens públicos, na prática, esse tipo de jornalismo é combatido a ferro e fogo pelos corruptos de todos os calibres instalados nas estruturas estatais ou nas grandes empresas.

É impossível imaginar o País passando pelas contemporâneas crises que nos espantam diariamente sem a presença e a ação dos meios de comunicação apurando e denunciando, exercendo o verdadeiro papel de olhos e ouvidos da Nação e descortinando, cotidianamente, para o cidadão brasileiro como a corrupção e outras categorias de crimes estão empastelando o presente e inviabilizando o futuro. Apesar do veneno das notícias falsas que infestam as redes sociais, é possível assegurar que, de regra, as mídias impressas, eletrônicas e digitais estão empenhadas em cumprir sua missão de informar e decodificar a realidade.

Um dos efeitos psicossociais mais deletérios da atualidade é que o triunfo da corrupção e o império da impunidade frequentemente enfraquecem a crença no modelo republicano e no regime democrático. Daí emergem as propostas totalitárias e as opções radicais. Por isso, é fundamental renovarmos nossa crença na liberdade de imprensa como pedra de toque de todas as demais liberdades civis e democráticas. A valorização de todas as profissões abrigadas sob o manto da comunicação social. O reconhecimento da comunicação como instrumento de justiça social e desenvolvimento econômico, cultural e político.

Esses princípios e valores nós celebramos anualmente com a realização em Chapecó, do Encontro da Imprensa Catarinense, já em sua 11ª edição. Esse evento notabilizou-se por integrar todas as entidades de representação da comunicação e reunir jornalistas, radialistas, radiodifusores, publicitários, mídias, docentes e empresários de comunicação, justamente na capital do oeste que ostenta a posição de segundo polo de comunicação de Santa Catarina. É uma obra cooperativa que reúne todas as entidades de defesa e representação da comunicação catarinense e que recebe contribuição da sociedade civil.

É a mais autêntica e legítima manifestação de apreço e de valorização da imprensa livre. Os profissionais e empresários do setor passaram a ser alvo de homenagem, indicados e selecionados por um critério extremamente justo e objetivo: 50 anos ou mais de atividade em qualquer das áreas da comunicação. Representa uma emoção inefável cultuar esses homens e mulheres de cabelos brancos que tanta contribuição deram às suas comunidades, exercendo um jornalismo orientado pelo real interesse público e produzindo uma comunicação de qualidade. Esses veteranos oferecem aos jovens uma oportunidade singular de integração e transmissão de conhecimento, mercê da experiência e da sabedoria que acumularam em décadas de trabalho. O respeitoso e produtivo intercâmbio entre gerações é uma das riquezas do Encontro da Imprensa Catarinense.

Neste ano, comemoramos também os 187 anos da imprensa barriga-verde, os 86 anos de fundação da Associação Catarinense de Imprensa (ACI) e os 50 anos da Casa do Jornalista.