Pior cego é aquele que não quer enxergar

Publicado em: 19/08/2019

Por Ivan Ramos diretor executivo da Fecoagro

Existe um ditado popular que diz “pior cego é aquele que não quer enxergar”. Outra frase verdadeira é aquela que diz: “Quer conhecer a pessoa? Dai poder a ela”. Infelizmente esses dois ditados parece estão presentes nesse momento nos governantes de SC.

O episódio da tributação dos defensivos agrícolas, atingindo uma atividade que tem garantido a sobrevivência da econômica estadual, com repercussão em diversos outros segmentos da sociedade, é a mais eloquente demonstração de quem está defendendo a tributação, não quer enxergar que embora mesmo que possa ter distorções, não será solução no presente, nem no futuro.

Cobrar imposto de algo que é gerador de tributos em toda a cadeia produtiva, inclusive com valor agregado, é ignorar os reflexos que causará no agronegócio como um todo. Não dá para acreditar que pessoas com o conhecimento e a influência de um governador do Estado não consiga discernir o que tem de positivo nos subsídios de produtos que geram outros benefícios, que se multiplicarão na cadeia, beneficiando não apenas quem produz e consume, mas também o próprio Poder Público que depende de arrecadação.

Pelo que se sabe estão sendo ignoradas as posições técnicas e cientificas de uma equipe gabaritada do próprio governo, preparada e treinada para fazer o melhor por SC, inclusive deixando de fora do debate a vice-governadora que tem origem rural, que pediu votos na última eleição para os dois, defendendo o agronegócio.  Efetivamente deve ser “o cego que não quer enxergar”.

Toda a polêmica criada com a decisão de imputar 17% de ICMS nos defensivos agrícolas, andando na contramão do que fazem outros estados e até o Governo Federal só pode ser um capricho de um governante iniciante, ou uma defesa ideológica, enrustida num sistema, que em tese, faz parte de uma filosofia liberal.

Será que nenhuma das entidades que se manifestaram contrárias a essa medida não merece credibilidade do governo, e ficar insistindo em defender uma tese tecnicamente contraria a realidade econômica do estado?

A defesa de tributação dos insumos com a intenção de reduzir consumo, é tão inadequada quanto achar que produtos orgânicos vão alimentar o estado, o país e o mundo. Ninguém deve ser contra produtos orgânicos e quem puder comprar e se existir o suficiente para sua sobrevivência, que o faça, mas achar que esses produtos serão a solução atual é simplesmente ignorar o óbvio.

Depois de tantas manifestações na esfera parlamentar, de prefeitos e lideranças e inúmeras justificativas nos segmentos organizados de que a medida inviabilizaria a agropecuária catarinense, mataria galinha dos ovos de ouro, não resta outra conclusão sobre esse fato senão a de usar a caneta para mostrar que manda.

Não é nenhuma falta de respeito com as autoridades constituídas em apontar os erros que estão praticando, especialmente quando há pouco diálogo com a sociedade. Falta de respeito é ignorar o que uma massa expressiva e representativa pensa, defende e depende que é produzir de forma econômica, competitiva e de acordo as exigências dos mercados em que convivemos. Essa a situação de insistência e prepotência e ignorar um fato real, só pode ser uma tremenda demonstração de autoritarismo no cargo.

Agora, segundo o secretário da Agricultura Ricardo de Gouvêa, o governador sinalizou receber as lideranças do agro para conversar. Teve que chegar ao extremo do descontentamento para que isso acontecesse. Vale aqui mais uma vez a afirmativa do ditado: “Quer conhecer alguém? Dai poder a ela”.  E tem outro: “Quem diz o que quer, ouve o que não quer”. Pense nisso.

Fonte: Fecoagro