Desafios do Cooperativismo foi tema de evento do agronegócio em SP

Publicado em: 31/07/2018

Problemas de gestão e falta de regras de governança. Essa foi a conclusão do debate “Desafios do Cooperativismo”, promovido pela revista Plant Project durante o Global Agribusiness Fórum 2018, realizado em São Paulo. A iniciativa reuniu Luciana Martins, diretora da MPrado Consultoria e responsável pelo estudo Gestão 360º no Cooperativismo, e Jones Yasuda, presidente da CCAB (Consórcio Cooperativo Agropecuário Brasileiro), empresa que nasceu da união de cooperativas do Cerrado brasileiro com o objetivo de buscar registros para produtos genéricos, fundamentais no mercado de defensivos agrícolas.

Luciana Martins apresentou alguns resultados da pesquisa, apontando os principais desafios que as cooperativas – sejam de grande, médio ou pequeno portes – devem enfrentar para terem crescimento consistente, retenção de talentos e engajamento efetivo dos cooperados. “Para se ter ideia, 55% das 50 cooperativas agrícolas participantes da pesquisa não possuem planejamento estratégico formalizado. Elas até identificam um percentual de crescimento para o médio prazo, mas não colocam no papel, não formalizam as estratégias para alcançar esse objetivo”, comenta a especialista, com 12 anos de atuação em consultoria para cooperativas.

As falhas na gestão ficam ainda mais evidentes quando ela destaca outros quatro números importantíssimos: 67% das cooperativas não possuem estratégia de crescimento para os próximos cinco anos; 54% não elaboram fluxo de caixa com visão mensal, semestral ou anual; 55% não utilizam hedging como ferramenta para evitar riscos de grandes oscilações das commodities e do dólar; e 52% não fazem controle de giro dos estoques de insumos agrícolas. “É interessante, e preocupante, perceber que elas não se preocupam com isso. Muitas cooperativas prestam serviços para os cooperados, mas não exigem a reciprocidade deles em relação à fidelização de marca, por exemplo. Por outro lado, muitos associados enxergam as cooperativas apenas como um facilitador do seu negócio, por isso não se sentem donos daquele sistema”, ressalta Luciana.

A profissionalização tem começado a fazer parte do sistema cooperativista. O exemplo mais próspero é o CCAB, que iniciou em 2006 com a união de 22 cooperativas brasileiras e, em 2016, firmou aliança com o InVivo, o maior grupo francês de cooperativas agrícolas – 206 associações – com presença em 30 países. “No início a ideia era ser apenas um consórcio, mas percebemos que o modelo não funcionava, já que cada cooperativa teria de montar toda a estrutura para fazer importação e registro dos defensivos agrícolas”, comenta Jones. “Então decidimos transformar o CCAB em uma S.A, com uma gestão totalmente profissional, feita por executivos especializados, e regras de governança bem estruturadas”, completa.

Um dos pontos destacados por ambos os profissionais, no que se refere à profissionalização da gestão das cooperativas, é a dificuldade de levar executivos para cidades menores com o objetivo de presidir ou gerir essas associações. “O principal desafio para atrair talentos é a falta de conhecimento do sistema cooperativista. Às vezes encontramos cooperativas que oferecem salários para o cargo de direção muito superior aos de multinacionais, mas o desconhecimento faz com que os profissionais optem pela empresa privada”, ressalta Luciana. Além disso, a falta de regras de governanças assusta os executivos, já que eles não têm noção do que pode e do que não pode realizar na cooperativa.

Quando falamos de sucessão, a diretora da MPrado reforça que não é um problema as cooperativas terem presidentes e/ou conselheiros que estão há anos no cargo, desde que esses gestores entendam que é preciso evoluir em governança, compliance e geração e análises de indicadores, como qualquer outra empresa, além de ter um programa de sucessão, que prepare novos profissionais para assumir os desafios com efetividade e novos olhares.

Fonte: Revista MundoCoop