As sucessões nas propriedades e nas entidades

Publicado em: 08/03/2021

Por Ivan Ramos diretor executivo da Fecoagro

Temos ouvido com frequência de lideranças e técnicos ligados aos setores agropecuário e cooperativista, que precisamos nos preocupar com a sucessão nas propriedades rurais e nas entidades do setor. Tanto nas famílias, como na direção das entidades, há que reconhecer que é natural as pessoas envelhecerem, ficarem cansadas e, às vezes, doentes. Então, é necessário que haja um planejamento para que a atividade continue existindo, sem sobressaltos e para isso temos que preparar nossos sucessores.

Nas propriedades rurais, esse processo acontece com maior facilidade, pois os chefes das famílias geralmente convocam seus dependentes para assumirem a missão, embora muitos jovens nem sempre estejam dispostos a comandar a propriedade, especialmente nas pequenas áreas, pois a possiblidade de estudar e buscar um bom emprego no meio urbano os desencorajam de voltar ao campo, principalmente se a renda rural não aparece em muitos produtos. Mesmo assim, tem se notado que muitos jovens retornam ao campo após os estudos, notadamente aqueles que escolhem uma faculdade ligada ao agro, como engenheiro agrônomo, médico veterinário ou técnico agrícola, entre outras. Mas ainda é diminuta essa preocupação dos agricultores, e precisam ser incentivadas com maior frequência pelas lideranças do setor.

Em SC, principalmente, onde a estrutura fundiária é de pequenas propriedades, se torna difícil dividir terras com os filhos, entretanto, a diversificação de culturas com maior valor agregado, ocupando menos área, oferece alternativa de renda atrativa aos jovens rurais. Aqui vale repetir a frase do ex-secretário da Agricultura Airton Spies, de que pequeno agricultor não é mais sinônimo de agricultor pobre. Dá pra produzir e viver bem nas pequenas propriedades.

Do outro lado, temos a sucessão na direção das entidades do agronegócio. O que se nota é que poucas lideranças estão preocupadas em preparar seus sucessores nas direções das entidades.  As raras alterações que acontecem são devido exigência legal ou estatutária, ou por falta de expressão da entidade no contexto geral que interessa muito pouco a determinadas lideranças.  É bem verdade que precisa de cuidados nas mudanças, para não provocar interrupções bruscas na política institucional praticada. Mas se houver planejamento na sucessão, os gestores atuais podem preparar a transição tranquila, e continuar como experientes conselheiros após suas saídas e assim não provocar solução de continuidade nas entidades.  

Gestores com muitos mandatos passam a ser viciados no seu sistema de gestão e muitas vezes não se sensibilizam com as novas alternativas existentes. Neste momento, o desgaste natural aparece, e aí podem surgir candidatos de oposição que se não tiverem domínio da gestão podem levar por água abaixo tudo o que foi construído. Portanto, os dirigentes conservadores das entidades do agronegócio e do cooperativismo precisam se preocupar com essa possibilidade e preparar alguém para sucedê-los e evitar fazer como determinados candidatos em eleições políticas, que abandonam as suas atividades profissionais, transformando a política em profissão, e quando acontece algum revés eleitoral, ficam na estrada sem outra opção de trabalho.

Dirigentes de entidades de representação são transitórios e não eternos, e precisam se conscientizar disso.  Do contrário, acabam tendo dissabores inesperados numa substituição abrupta que não estava planejada.  Renovação e rotatividade nos cargos são sempre salutares. A Fecoagro tem adotado esse sistema e a cada dois mandatos, troca seus dirigentes eleitos e os resultados têm sido positivos. Pense nisso.

Fonte: Fecoagro