As consequências de um mercado instável no agro

Publicado em: 16/05/2022

Por Ivan Ramos diretor executivo da Fecoagro/SC.

Nos últimos dias o setor agropecuário catarinense e brasileiro, tem vivido um misto de satisfação e preocupação. A satisfação está nos números das exportações de carne de frango, que tem crescido em mais de 28 por cento no último trimestre, assegurando, pelo menos parte, a recuperação dos prejuízos do setor de suínos que sofre com a redução das exportações, e com a queda das vendas no mercado interno, devido a perda do poder aquisitivo da população brasileira. O resultado negativo nos suínos tem consumindo os lucros auferidos em anos anteriores.

É verdade que para os criadores a consequência da queda do mercado é menor, especialmente aqueles integrados às agroindústrias e cooperativas, pois apesar da elevação dos custos de produção, devido à elevação dos preços dos grãos para ração; estão sendo absorvidos pelas integradoras e não pela maioria dos integrados.  Esse sistema de união e integração tem sido positivo para um expressivo número de associados de cooperativas ou integrados nas agroindústrias, garantindo uma rentabilidade mínima, independentemente do comportamento do mercado.

Os produtores independentes é que estão sofrendo mais, pois com a queda do preço dos suínos, precisam suportar a diferença dos atuais custos de produção. Aqueles produtores independentes que souberam fazer um colchão de reserva dos lucros auferidos em épocas em que o mercado esteve positivo, devido a liberdade de vender ao preço em que o mercado estiver pagando mais, devem estar sofrendo menos. 

O sistema de integração, que muitas vezes tem sido criticado, é que tem garantido uma regularidade de resultados positivos para os produtores em épocas de vacas magras como a atual. Ser integrado pode até se ganhar menos, mas também fica menos exposto aos riscos do mercado, e ter que ficar pedindo arrego aos governos para superar crises. As agroindústrias integradoras têm mais capacidade de suportar problemas de mercado, numa atividade que tem sido cíclica: hora boa, hora ruim. Mais uma vez fica comprovado que a união faz a força.

Outro assunto que parece ter definição nos últimos dias no agro foi a tributação da cesta básica atingindo alguns alimentos. Depois de muito debate entre os setores atingidos, como o do leite e da farinha de trigo; parlamentares e o Poder Executivo, finalmente foi aprovada a lei que reduz a incidência de ICMS nos produtos da cesta básica. Aparentemente agradou a maioria dos setores envolvidos, entretanto, ainda há resistências sobre os benefícios dessa decisão.

As indústrias de laticínios, por exemplo, estão reclamando da forma que foi aprovada a lei.  Garantem que a redução do ICMS no leite da forma definida, vai acabar prejudicando os produtores rurais, pois as indústrias processadoras do leite ficarão em desvantagens competitivas em relação ao mercado dos estados vizinhos, e essa redução de resultados, vai acabar repercutindo nos preços do leite a ser pago aos agricultores.

Em nota publicada após a aprovação da lei, o Sindicato das Indústrias de Laticínios de SC fez severas críticas a decisão dos parlamentares. Diz que antes da votação, mostraram quais seriam as consequências, mas não foram ouvidas nem pelo Governo, nem pelos deputados. Pelo que se denota, vem aí mais polêmica sobre esse assunto nos próximos meses. A conferir. Vamos ver se mais uma vez o ônus não vai sobrar para os produtores rurais, como sempre. Pense nisso.

Fonte: Fecoagro/SC.