Vai faltar milho em SC?

Publicado em: 16/12/2019

Por Ivan Ramos diretor executivo da Fecoagro

O problema volta à tona: o abastecimento de milho em SC. Vez por outra o assunto entra na ordem do dia. Ou porque a safra quebrou, ou porque o preço está muito alto ou outro motivo qualquer. Para os criadores catarinenses isso não é novidade. O que é preocupante é que a tendência natural é cada vez ficar pior a insuficiência de milho para o atendimento das agroindústrias de carnes do nosso Estado. Como diria aquele líder político: “Esse é um bom problema, uma vez que se está faltando milho é porque o nosso parque industrial está agregando valor no nosso grão e na cadeia de proteínas”.

Diversas iniciativas já foram tentadas para minimizar essa falta, mas parece que nunca se encontra uma saída. A Rota do Milho do Paraguai e Argentina não sai do papel; a produtividade tem aumentado, mas mesmo assim tem perdido área para a soja; a importação do Centro-Oeste tende a se reduzir, pois o caminho natural da produção daquela região deve ser para a exportação pela Calha Norte que reduz o frete, e nós aqui no Sul continuamos carentes do produto, trazendo do exterior e pagando caro para produzir as carnes que estão conquistando o mercado mundial.

Tem saídas? Está se tentando. A alternativa em SC é cultivar grãos de inverno para a produção de ração, aproveitando as áreas ociosas, e isso está em discussão há quase três anos, e sempre encontra obstáculos.

Na última semana o secretário Ricardo de Gouvêa promoveu mais uma reunião para discutir esse assunto. A reunião foi bastante prestigiada com a presença das principais entidades do setor interessadas no assunto. Lamentavelmente com pouca solução em curto prazo. Produzir trigo, cevada ou triticale para produção de ração, ficou evidente que no momento não há solução. Não dispomos de tecnologia em sementes compatível com a produtividade necessária e a rentabilidade possível de ser absorvida pelas agroindústrias.

As agroindústrias presentes na reunião dizem que não têm restrição em substituir parte do milho por trigo, triticale ou cevada, mas desde que se obtenha a garantia nutricional necessária e os preços equivalentes ao do milho.

As sementes atualmente disponíveis não produzem o suficiente para baratear os custos de produção e equalizar o preço do trigo com o milho. Demonstração evidente que nossa pesquisa de culturas de inverno não diversificou nem avançou. Ficou apenas nas sementes para produção de pão, que paga mais. O produtor de trigo não vai plantar o produto para ração se não tiver produtividade para cobrir os custos de produção. O que precisa é de mais pesquisa para novas cultivares.

Segundo a Embrapa isso demora no mínimo quatro anos. E o pior, a empresa não dispõe de recursos financeiros para pesquisar. Solução em curto prazo? Se aproveitar as melhores sementes atualmente existentes no mercado e plantar reduzindo os custos de produção, já que não tem condições de aumentar a produtividade. Nesse caso precisará de subsídios para que o custo do trigo ou da cevada não fique maior do que do milho.

O secretário disse que vai tentar viabilizar algum subsídio, mas isso não se sabe se será o suficiente para motivar o plantio.  Da mesma forma se comprometeu em estartar algum projeto que vise à pesquisa de sementes para produção de ração, mas isso só terá resultado em longo prazo.

Pode ser desanimador, mas não existe outra forma. Se ninguém começar, nunca vai avançar. Uma coisa parece certa. Só de milho não vamos abastecer nossas agroindústrias, precisamos de alternativas. Para isso há que se envolver todos os elos da cadeia. Produtores, cooperativas, agroindústrias, consumidores de milho e o governo do Estado.  Do contrário vamos ficar marcando passo e se lamentando. Pense nisso.

Fonte: Fecoagro