Banco do Brasil lidera liberação de crédito rural

Publicado em: 25/11/2020

Líder histórico no segmento de crédito rural no país, o Banco do Brasil voltou a elevar o tom e não cogita mais perder espaço nesse mercado.

Sob o comando de seu novo presidente, André Brandão, a instituição pretende no mínimo consolidar a participação de 55% que tem nos financiamentos a produtores e agroindústrias e ganhar espaço nos “ecossistemas” da atividade, aproveitando o aumento dos recursos captados durante a pandemia para ofertar empréstimos volumosos mesmo sem equalização das taxas de juros.

Nesta safra 2020/21, as contratações de crédito rural no Banco do Brasil já estão 20% maiores que as do ano passado, seguindo o ritmo ditado pelo apetite do campo. “Vamos consolidar nossa posição de liderança mesmo se houver redução no nosso percentual de recursos subvencionados. Vamos trabalhar forte para não perder mercado”, disse ao Valor o vice-presidente de Agronegócios do BB, João Rabelo.

Com alta substancial até setembro da captação de recursos via poupança (R$ 210 bilhões) e depósitos à vista (R$ 90,7 bilhões), principais fontes dos financiamentos agropecuários, o banco vê margem para emprestar sem equalização a taxas próximas das controladas e não teme concorrência pela subvenção, antes restrita a entidades públicas e cooperativas de crédito.

“É muito ruim ter no agro só um ou dois bancos. É bom ter mais, pois conseguimos diluir o risco, desenvolver melhor as soluções e chegar a mais mercado”, afirmou Rabelo, que ainda reclama dos custos para operar com o setor ante um taxa básica de juros (Selic) em mínima histórica.

“O nível de exigência que o Manual do Crédito Rural traz não parece ser compatível com o benefício que está sendo colocado. O custo de observância para fazer crédito rural está alto”, afirmou, indicando que poderia baratear a operação na ponta com mais simplificação no processo.

O BB nunca deixou de liderar com folga o segmento, mas o discurso mudou em relação à gestão anterior – quando, amparado pelo governo, o banco sinalizava que perder participação para bancos privados era inevitável.

A fatia da instituição no saldo das operações de crédito ao setor caiu de 65% para 55% nos últimos cinco anos, mas Rabelo quer brecar essa tendência. Nesse sentido, lembra que a carteira de agronegócios da instituição cresceu R$ 40 bilhões no período e chegou a R$ 190,5 bilhões, 26% do total.

“O objetivo é aumentar a participação. Mas estou menos preocupado com a participação no sistema nacional de crédito rural e mais preocupado com a participação lá no cliente”, afirma o executivo, que está de olho em oportunidades no mercado de capitais.

Uma das apostas é no financiamento das Cédulas de Produto Rural (CPRs), para as quais o BB separou R$ 4,5 bilhões de recursos livres nesta safra. A obrigatoriedade de registro desses títulos a partir de 2021 vai dar “mais clareza e segurança” para avançar nessa frente, segundo Rabelo.

O objetivo é ser “mais agudo” e conquistar espaço onde hoje reinam cooperativas, tradings e cerealistas, que fomentam cerca de um terço da produção agropecuária do país.

Fonte: Valor